tuguesa serviu, em primeiro lugar, para constatarmos que ainda existem muitos democratas (?) com um hitlerzinho adormecido num recanto da alma e que aflora, logo que apanha desprevenido o seu hospedeiro. Apesar de muitos anos de vivência em democracia, é impressionante o número de pessoas que, sem qualquer pudor, aparecem nos jornais e nas redes sociais a insurgirem-se contra o direito à palavra de um homem que, por maiores que tenham sido os seus erros de governação, continua a gozar de todos os seus direitos.
Claro que estes "democratas de longa data" não têm coragem de confessar os verdadeiros medos que as palavras de José Sócrates lhes suscitam e justificam a sua indefensável atitude com argumentos arranjados à pressa e sem qualquer sentido.
Depois de se ouvir o que o homem tinha para dizer, logo na primeira entrevista, fica-se a compreender a razão desses receios. Na verdade, a entrevista do ex-primeiro ministro na RTP mostrou que, desde a sua derrota eleitoral, foi criado em Portugal, pelo Governo PSD/CDS, pelos partidos que o apoiam, mas também pela chamada esquerda partidária (Bloco de Esquerda e Partido Comunista) e com a cumplicidade do PS, uma mistificação assente na responsabilização de Sócrates pela desgraça em que caiu o país, por ter sido despesista, incompetente e corrupto, entre outras, "qualidades" que lhe foram atribuídas.
Em poucas palavras, Sócrates apresentou uma interpretação dos acontecimentos verificados nos anos de 2008 até (março de) 2011 que, por incrível que pareça, nunca ninguém tinha apresentado, apesar dos inúmeros jornalistas e comentadores, economistas e politólogos que enchem a nossa praça e que nos convencem que são imparciais nas suas análises.
Contrariamente ao que ouço dizer por esses comentadores, Sócrates não tirou do capote todas as suas responsabilidades, mas fez questão de retirar as que na verdade não lhe cabem e que, até agora, lhe têm sido atribuídas. E fez muito bem!
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